Crítica: Lucicreide vai pra Marte – Rogério Amaral de Vasconcellos
Agência Espacial Nacional atrelada ao ianque rótulo “Mars Mission” cuspido a cada chamada na televisão
Rogério Amaral de Vasconcellos
[L]ucicreide vai pra Marte (Fox, Telecine, Globo filmes) pode não ser um marco na filmografia brasileira, tangenciando Star Wars e Aliens, mas revela dois pontos positivos para os pessimistas de plantão munidos do tradicional “eu te disse”: que é possível quase não ter ponto positivo algum e que a catequese estrangeira, cedendo miçangas aos tupiniquins, a título de esmola & risos, perdura até hoje, chegando à era espacial.
É difícil afirmar que a obra é brasileira (exceto o áudio quase ininteligível, misturado com o tatibitate da protagonista egressa de programas humorísticos, no papel homônimo ou não, o que, ressalto, não é problema único de Lucicreide, tornando quase obrigatória a necessidade de legendas em filmes nacionais pelo áudio comprometido).
Quando os criadores assumem certa AEN – Agência Espacial Nacional atrelada ao ianque rótulo “Mars Mission” cuspido a cada chamada na televisão. Tá certo! É comédia e escrachar faz parte. Mas precisava ser tão ostensivamente pedante, usando Marcos Pontes, como ele próprio, antes de assumir o ministério em 2019, sendo o cicerone dos candidatos a astronautas brasileiros em um tour pelo Cabo Canaveral, antes da missão propriamente dita que mandaria um nativo sulamericano e um mico em uma viagem só de ida a Marte? Não disse antes, mas adiantar o enredo, aqui, é só uma forma de preservar o leitor e amenizar o dano datado no filme. Aliás, sou do tempo que entrevistei Pontes para a Scarium (ver edição 16), quando ele ainda estava em Baikonur, no Cazaquistão, cosmódromo onde o astronauta partiu (há 15 anos) para a ISS (Estação Espacial Internacional), na qual ficou conhecida, ou não, Missão Centenário dos 100 anos do voo realizado pelo 14Bis.
Naquela época eu e o astronauta brasileiro também tínhamos duas coisas em comum: estávamos mais em forma e ainda não tínhamos o mesmo patrão.
Mas se esquecermos o resto, mesmo Lucicreide (a atriz Fabiana Karla) não salvando o dia como ótima humorista em roteiro não tão ótimo, servindo como curiosidade científica expostas no treinamento dos astronautas (a Cadeira de Bárány, como usar a privada corretamente no espaço e beber dejetos reciclados), o papel do filme foi também no sentido de mostrar a possibilidade de brasileiros chegarem a Marte no futuro, quando, no momento, o mais provável é somente repisar aquilo que somos famosos e lembrados: Coisinha do pai, samba que ativou a sonda Sojouner (1997) em Marte.
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