A (in)consciência do horror plano!
Este planeta, habitante duma das miríades galáxias que residem no cosmo (no caso, a Via Láctea per si), devido à sua consciência transtornada após tomar ciência que os vis humanóides…
Gazy Andraus –
Planetas.
Singram o cosmo, tais quais bólidos interestelares! Suas formas arredondadas, de gravidades díspares, se situam dentro de voleios de estrelas. Sóis abundantes que iluminam e dragam as vidas dos planetóides.
Porém, n´algum instante do desenvolvimento cósmico das (e nas) galáxias, até mesmo insurreições e alterações podem aflorar...
A consciência, tão declamada e defendida como objetivo a se alcançar do espírito humano terrestre, quando concernente à esfera azulada da galáxia láctea, esteve em processo de reentendimento pela ciência atinente aos seres bípedes (que se desenvolveram de quadrúpedes, quando remetidos tais conceitos às reminiscências geológicas terrestres).
É por esse entendimento então, que uma simples pedra — mineral fragmentário — pode ser provida de uma consciência, mínima qual seja.
A se confirmar tal especificação não se deve negar que, assim “como é acima é abaixo” (aforisma humano hermético do Kybalion), em que os astros interestelares, neste caso, possam também ter graus e/ou níveis de consciência!
Pois é desta feita que o tenebroso fato aqui a ser narrado atesta tal possibilidade quantificada (pois da esfera quântica — em que a realidade pode ser luz e/ou onda a depender dos esforços mentais de seus partícipes que subjetivam seu objetivismo).
Narra-se assim, como se segue, o voleio fatal...
Este planeta, habitante duma das miríades galáxias que residem no cosmo (no caso, a Via Láctea per si), devido à sua consciência transtornada após tomar ciência que os vis humanóides — representados no orbe pelos seres ditos inteligentes e (in)conscientes que o habitam — lhe remetem ao perjúrio, tornando-o desgostoso com tais falseamentos, resolve se “rebelar” partindo para uma autotransformação, achatando-se até aterrorizar, asfixiar, destruir, esmagar inclusive seu material agregado artificialmente (ainda que matéria-prima pertencente à sua própria essência bruta) e, atarracado, de planeta esférico, passa a chato, enregelando seus polos, insurgindo-se ao reino cósmico!
Esta teria sido sua primeira afronta, além de, depois, arremeter a si mesmo em direção ao astro-rei, causando desequilíbrio em todo seu sistema solar!
Foi desta feita que os seres bípedes bicerebrais da anterior esfera azulada, sendo falseadores em quantidade maior que a metade da população do orbe que restava (quase) íntegra, intentavam a busca de suas bordas terrenas, mas muito devido à crença arraigada em mitos recém-formados sem bases reais míticas junguianas e/ou científicas mensuráveis.
Assim, desejosa aquela quantia de terraplaneiros de comprovar contrariamente aos restantes defensores do formato original do planetoide, tendo inclusive já massacrado um quinto e espezinhado outro quarto destes últimos que defendiam sua forma arredondada, e deplorando hereticamente ao clamar e bradar que a Terra se situava plana e que singrava solitária como centro gravitacional a se iluminar por um sol artificial (o qual cambiava, segundo eles, por outra fonte de emanação singular de menor intensidade que afetava as marés), é que o planeta, desgostoso destas afrontas para com sua gênese vital, resolveu antecipar seu fim, o qual em realidade teria levado, se não efetuado este ato, mais alguns bilhões de anos a ocorrer.
Porém, é assim que tal consciência de Gaia não mais suportou e decidiu cumprir letalmente a imaginação quantificada de – agora – mais da metade da população ensandecida, se dobrando à sua ilusão e realizando na realidade tridimensionalizada o que vociferavam enquanto agrediam os que de suas ideias desdenhavam, se deixando também ser dragado em direção ao extermínio solar!
Pulverizado, o terceiro planeta que distava do astro-rei não mais existe enquanto todos os outros permanecem incólumes (e redondos) mantendo o equilíbrio salutar daquele sistema, da galáxia e das constelações!
E a virulência maledicente humanoide não mais se postou presente para deformar tal equanimidade cósmica, deixando de perturbar as consciências planetárias!
É pena que nesta catástrofe, muitos que desejavam viver nesta ordem sideral e não contrariavam a realidade bólida dos planetas, foram também dizimados...
Pois como narrado, ali, em meio a eles, se amplificou um macróbio gerado pelos ids aglomerados dos insensatos, tal qual um câncer metastático que afetou a consciência viva em seu grau inerente: Gaia!
Horror cósmico a tal planeta, em que mais da metade das mentes de seus habitantes forçavam uma alteração em sua realidade que lhe tiraria do equilíbrio da rotação e translação por longos milhões de anos, afetando sua magnitude e sua quietude e vivacidade, não poderia perdurar como perjúrio de sua integridade!
Melhor seria se reintegrar para quiçá retomar sua essência de outra forma, num outro espaço-tempo!
E foi assim que tal horror mental-planificado, ao afetar a consciência do terceiro orbe solar, pôde ser extirpado, definitivamente, para júbilo do reequilibro cósmico (e paz mental do planetóide esférico que se viu forçado a terraplanar-se, desagregando-se do espaço sidéreo)!
E a (des)humanidade se dissolveu em sua (in)consciência chafurdada no próprio oceano da vacuidade cósmica!
Gaia, então desvanecida, poderá aguardar seu retorno… para sua próxima circunvolução!
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Gazy Andraus - é pós-doutorando pelo PPGACV da UFG, Doutor pela ECA-USP, Mestre em Artes Visuais pela UNESP, Pesquisador e membro do Observatório de HQ da USP, Criação e Ciberarte (UFG) e Poéticas Artísticas e Processos de Criação. Também publica artigos e textos no meio acadêmico e em livros acerca das Histórias em Quadrinhos (HQs) e Fanzines, bem como também é autor de HQs e Fanzines na temática fantástico-filosófica.
gazyandraus@ufg.br; yzagandraus@gmail.com ;
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Show, muito profundo este conto. Ele tem uma régia filosófica, um tanto momentum de grafitagem.
Que bacana seu comentário! Esta analogia com grafitagem eu não tinha percebido!
Muito bom!! Bastante atual, crítico, sarcástico e irônico. Muito bem escrito também! Ótima leitura. (Terraplanistas não entenderão, obviamente!)
É provável que sequer leiam também…menteplanistas planas por demais para quererem ler, creio! Grato pelo comentário.