Outros 500

Antonio Luiz Costa

 

Caros Editores de Scarium:

Por algum desses mistérios da Internet, meu computador parece ter acessado momentaneamente a rede de computadores de um universo paralelo. Caiu no portal de um jornal infantil, com versões em tupi e português, que ainda guardava um texto muito interessante sobre as comemorações dos 500 anos do Descobrimento. Transcrevo-o abaixo por pensar que isto talvez seja do interesse de seus leitores.

Atenciosamente,

Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa

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Piratininga, sábado, 15 de abril de 2000

História

PODIA SER DIFERENTE

Da historiadora Potyra Tapirapé Pataxó, para Porandutepé Curumim

(traduzido do tupi para o português por Severino dos Santos)

Não só os leitores deste jornal eletrônico infantil, como todas as crianças do Brasil e do mundo estão louquinhas pelos fogos e festejos que vão marcar os 500 anos do descobrimento na linda cidade de Nhoesembé (conhecida, em português, como Porto Seguro – N.T.). Divertir-se com os espetáculos programados é bom e importante, mas será ainda mais emocionante se souberem toda a história da aventura dos Descobrimentos e de seus resultados. Se houvesse sido de outra forma, o mundo seria hoje muito diferente e, talvez, não tão feliz.

Tudo poderia ter sido muito diferente se Afonso V não se houvesse enamorado de uma bela fidalga portuguesa, D. Ana, secretamente convertida à heresia dos cátaros – que sobrevivia na clandestinidade depois de reprimida pela Cruzada Albigense do século XIII – e desistiu de seu plano de desposar a herdeira do trono de Castela e juntar a coroa de Castela à de Portugal.

Em vez disso, concentrou seus esforços em fortalecer as finanças do reino e em apoiar e continuar as explorações iniciadas por seu irmão. Influenciado pela esposa, encetou uma política de tolerância religiosa e, apesar de permanecer fiel ao catolicismo, abrandou a tratamento dado a mouros e judeus e permitiu que o catarismo voltasse a ser praticado à luz do dia, para irritação do clero e do papado. Discretamente instigado pelo papa, em 1476 o rei de Castela lançou um ataque a Portugal, mas foi derrotado na batalha de Toro pelo exército comandado pelo infante D. João, herdeiro de D. Afonso V.

Seu sucessor, D. João II, deu novo e poderoso impulso às navegações. Por sua ordem, Diogo de Azambuja funda na Costa da Mina o castelo de São Jorge. Salvador Fernandes Zarco, que por razões numerológicas se fazia chamar pelo pseudônimo de Colombo, retomou um antigo projeto de travessia do Atlântico e em 12 de outubro de 1482 descobriu as Antilhas.

Em 1483, Colombo fez sua segunda expedição, descobriu as costas do continente que se estende a oeste das Antilhas e o poderoso Império Asteca, governado então pelo tlatoani Ahuízotl. Em 1487, enquanto outros navegadores começavam a estabelecer missões comerciais e diplomáticas junto a Ahuízotl, sua terceira missão explorou as costas atlânticas do novo continente até chegar à Patagônia, no extremo Sul. Após esse extenso mapeamento, o novo mundo passou a ser conhecido com o nome de Colômbia.

D. João II era justo, perspicaz e tolerante, como bem o demonstrou, permitindo que entrassem em Portugal milhares de judeus e mouros que o fanatismo religioso de Fernando e Isabel expulsara de Espanha.

Filho de D. João II e de D. Leonor, D. Manuel I continuou a bem-sucedida política de tolerância religiosa de seu avô e de seu pai, bem como as explorações marítimas cada vez mais rendosas. Foram tantos os acontecimentos felizes e gloriosos para Portugal, durante o reinado de D. Manuel I, que este ficou sendo chamado o Venturoso.

Em 1498, Vasco da gama aportou a Calicute, tendo descoberto o caminho marítimo da Índia, enquanto a quarta expedição de Salvador Zarco, seguindo indicações de indígenas da costa sul-colombiana que falavam da existência de um grande império no interior, subiu os rios Paraná e Paraguai, até encontrar, à beira deste rio, uma excelente estrada de pedra. Seguindo por terra à frente de um pequeno destacamento, encontrou a cidade incaica de Samaipata e e lá foi conduzido a Cusco, a capital, onde foi recebido pelo próprio Sapan Inca, Huayna Cápac. Em sua viagem de volta, Zarco foi ferido de morte pela picada de uma jararaca, mas a notícia do novo descobrimento foi devidamente conduzida a Portugal por seu lugar-tenente, Aleixo Garcia.

Foi dois anos depois que Pedro Álvares Cabral comandou a maior frota até então já armada, com uma dupla missão colonizadora. Em 22 de abril de 1500 tomou posse, oficialmente, da costa da Colômbia do Sul para o rei de Portugal. A região foi oficialmente denominada Terra de Santa Cruz, mas logo conhecida como Brasil – e nela deixou centenas de homens, fundou uma cidade a que deu o nome de Salvador em homenagem ao descobridor do Novo Mundo.

Lá deixou parte de sua frota sob o comando do primeiro vice-rei do Brasil, Pero Vaz de Caminha, para defender o litoral de piratas e de possíveis invasões e dar apoio ao trabalho de colonização. Com o restante dos navios, prossegue rumo à Índia, onde estabelece outra colônia portuguesa, que D. Francisco de Almeida e Duarte Pacheco ampliam e consolidam.

Enquanto isso, Gaspar Corte Real explorava a costa da Colômbia do Norte e chegava ao Canadá e o o vice-rei da Índia D. Afonso de Albuquerque (1453-1515) conquistava Ormuz, Goa, Málaca e Áden, fundando um imenso império português na Ásia. No final de seu reinado, de 1519 a 1521, uma frota capitaneada por Fernão de Magalhães completou, a serviço de Portugal, a primeira circunavegação do globo terrestre.

O sucessor de D. Manuel, João III, continuou a resistir com habilidade e firmeza às tentativas da Igreja de estabelecer a Inquisição em Portugal para perseguir judeus, mouros, cátaros e protestantes. Reformou a Universidade de Coimbra, mandou fundar novas universidades em Lisboa, Salvador e Goa e empenhou-se na colonização das Índias, do Brasil e da África. Mandou vir do estrangeiro destacados mestres para reger suas cátedras e estimular as letras, a arquitetura, as ciências e as artes, incluindo Leonardo da Vinci e Miguel Ângelo Buonarotti.

D. João III promoveu o desenvolvimento das manufaturas na metrópole e nas colônias e fez de Portugal não só um rico entreposto comercial, como também um produtor de riquezas à altura de competir com os holandeses. Em 1535 ofereceu asilo a Tomás Moro, chanceler do rei da Inglaterra Henrique VIII que caíra em desgraça por se recusar a reconhecer o poder espiritual do rei. Fez dele um dos seus principais conselheiros.

Ainda por três gerações depois da descoberta do Brasil, Portugal continuou a ser um oásis de paz e prosperidade numa Europa assolada pelas guerras religiosas e seduziu empreendedores, artistas e pensadores de todo o continente. A opulenta corte de Lisboa atraiu a seu serviço talentos como Leonardo da Vinci, Ambroise Paré, Michelangelo Buonarotti e Galileu Galilei; dissidentes perseguidos pela intolerância católica ou protestante, como Giordano Bruno e Thomas More, ali encontraram abrigo seguro.

A idade de ouro portuguesa, hoje lembrada como o ponto culminante do Renascimento, atraiu a inveja dos demais reinos europeus. Em 1590 veio o desastre: França, Áustria e a recém-unificada Espanha atenderam ao apelo da quarta sessão do Concílio de Trento por uma cruzada contra os relapsos portugueses e os protestantes do norte da Europa, em troca da promessa de partilha de suas riquezas e colônias. Portugal já dominava os mares, mas como seu exército de terra dificilmente poderia resistir às tropas reunidas dos reis católicos, D. Sebastião, experiente e realista, organizou uma colossal evacuação em massa.

Protegida pela maior e mais moderna esquadra do mundo, a corte portuguesa, junto com grandes mercadores e seus protegidos, refugiou-se na jovem capital da florescente colônia do Brasil. Portugal foi invadido, mas em Salvador da Bahia a dinastia de Avis celebrou com os refugiados um novo pacto, proclamando o novo Império de Portugal, Brasil e Algarves e, pela primeira vez no Ocidente, a total liberdade de culto. Parcela expressiva da Igreja luso-brasileira, liderada por jesuítas dissidentes, rompeu com Roma e colaborou com o Imperador. Em aliança com judeus sefaraditas, cátaros e mouros portugueses que haviam acompanhado D. Sebastião a Salvador, fundaram a Igreja Ecumênica, também conhecida como Sebastianista.

Carente de homens e necessitando garantir as costas americanas contra piratas e eventuais invasores, Sebastião I assinou duradouras alianças com o inca Túpac Amaru e o tlatoani Cuautémoc e seu chanceler Fernão Moro – fascinado pelas idéias de seu avô Tomás Moro – concebeu um plano grandioso para incorporar tupis e guaranis à causa portuguesa, sob o lema "morrer se preciso for, matar um indígena nunca!". Foi implementado por ex-jesuítas que, em colaboração com sertanistas como Brás Cubas e João Ramalho, partiram de Piratininga e do Maranhão para fundar missões ao longo das bacias do Paraná, Paraguai e Amazonas, onde oferecem aos tupis os benefícios da civilização lusa, mas os alfabetizaram em sua própria língua e os educaram no trabalho regular, na cooperação e no desprezo pelo luxo.

Sertanistas descobrem enormes jazidas de ouro e ferro nas serras de Sabará e dos Carajás (que passam a ser conhecidas como Minas Gerais do Sul e do Norte) e a serviço dos aliados incas e astecas, descobrem imensas jazidas de prata em seus domínios. A abundância de metais preciosos provocou forte inflação nos domínios portugueses, mas também abriu o caminho para um rápido crescimento da economia. D. Sebastião mandou cunhar com o ouro das Minas Gerais uma nova moeda com o valor de mil réis, que por ser marcada com a constelação do Cruzeiro do Sul, passou a ser conhecida como cruzeiro.

Essa fabulosa riqueza acelerou o rearmamento do Império e estimula o desenvolvimento da manufatura nas industriosas missões tupi-guaranis que, através da intermediação dos mercadores portugueses, importam metais dos novos centros mineiros, açúcar e algodão das plantações da Bahia e de Pernambuco e lã de alpaca e cereais dos Andes, enquanto exportam artesanato, armas, tecidos, bebidas e conservas para mineiros do norte e do sul e para as opulentas cortes de Salvador, Cusco e Tenochtítlan.

Prosseguiam, enquanto isso, as guerras religiosas, nas quais a Santa Aliança dos reinos europeus colhera importantes vitórias. Em vez de enfrentar a marinha portuguesa ocupada com a evacuação, a "Invencível Armada" franco-espanhola desembarcou para depor Elizabeth I. Subiu ao trono sua prisioneira escocesa, a católica Mary Stuart, mas ela esgotou os recursos do seu reino combatendo Portugal.

Pouco depois, com apoio francês, os austríacos obtiveram uma vitória decisiva sobre os prussianos e anexaram os ducados protestantes do norte da Alemanha. Isto fez do Sacro Império Romano-Germânico uma poderosa realidade política e encurralou os protestantes no extremo norte da Europa, onde resistiram sob a liderança do brilhante estrategista sueco Gustavo Adolfo. A Aliança não conseguiu, porém, arranhar a hegemonia portuguesa no ultramar, nem obter uma vitória definitiva no continente: em Portugal e na Holanda uma intrépida resistência popular foi alimentada por ouro e suprimentos sul-americanos.

Enquanto isso, os chineses, invadidos por bárbaros, pediam socorro aos japoneses, que destroçaram facilmente os arqueiros manchus com canhões e mosquetes importados das fundições tupi-guaranis. Os mandarins, agradecidos, proclamaram que o Mandato do Céu havia caído sobre a dinastia Yamato, que permaneceu em Quioto mas enviou o xógum Tokugawa Ieyasu para reger o império sino-japonês.

Acontecimento ainda mais importante ocorreu em Sabará, onde o engenheiro de minas Tibiriçá Tamoio e seu jovem aprendiz Manuel Borba Gato construíram em 1649 uma máquina a vapor, invenção que rapidamente se difundiu pelas cooperativas tupi-guaranis e desencadeou a Revolução Industrial.

Pouco depois, os mercadores Raposo Tavares e Fernão Dias Pais, a serviço da Cooperativa Agroindustrial de Piratininga, instalaram máquinas a vapor em navios fluviais, fundam uma companhia de navegação e convenceram o governo imperial a construir canais que interligassem os grandes rios do continente e permitissem cruzar o continente do Prata ao Orenoco. Araribóia Tupiniquim construiu a primeira locomotiva e pouco depois a primeira estrada de ferro une Piratininga ao porto de Santos, logo sucedida por outras que complementam a rede hidroviária e estendem rotas comerciais aos domínios incas e astecas.

Enquanto isso, os filósofos Uriel da Costa e Bento Espinosa lançaram as fundações de um novo racionalismo que a história viria reconhecer como o Iluminismo Baiano, ao qual se juntaram muitos novos refugiados da Inquisição européia, como Descartes. A partir da Ética espinosista, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade conquistaram a brilhante intelectualidade tropical.

Essa filosofia, vulgarizada pela elaboração teológica da sincrética e progressista igreja sebastianista, alcançou as massas indígenas e mestiças, entre as quais a escravidão começou a ser seriamente questionada. O parlamento imperial promulgou leis trabalhistas garantindo aos escravos o direito de comprar a própria liberdade e a alforria automática das vítimas de excessos e dos escravos oferecidos para o serviço no Exército ou na Armada.

A guerra européia foi retomada em 1670, quando o almirante Domingos Calabar esmagou a "Invencível Armada" e desembarcou na Península Ibérica de dezenas de milhares de guerreiros brasileiros, incas e astecas.

Com a morte em batalha do general Domingos Jorge Velho, seu imediato Ganga Zumba assumiu o comando das forças de terra e obtém em Bragança uma vitória decisiva sobre a Santa Aliança, cujo negociador, o cardeal Mazarino, aceita não só a paz com Portugal, Holanda e Suécia, como a entrega de Castela aos incas e astecas e das colônias francesas e inglesas da Colômbia do Norte aos holandeses. Madri passou a se chamar Caxtlitítlan e um templo do Sol foi erguido sobre as ruínas da catedral de Sevilha, capital da nova província inca de Wantallusuyu, mas os portugueses, contentes por disporem de aliados fiéis entre eles e os rancorosos reis europeus, fecharam os olhos a tais excessos.

A essa altura, o poder em Salvador pertencia a uma geração que não conhecia Lisboa e cujos poderosos interesses estavam ligados à avalanche de riquezas mineiras, agrícolas e industriais que jorravam do continente colombiano. Em vez de voltar a uma Europa depredada por décadas de guerra, a corte limitou-se a nomear um vice-rei para Portugal (o Marquês de Montalvão) e enviar os recursos necessários para reconstruir e industrializar o pequeno país; os portugueses, apesar de um pouco frustrados, acabam dando-se por satisfeitos com a volta da prosperidade e o papel de cabeça-de-ponte européia de um império onde o sol nunca se põe.

O brilho do general negro impulsionou a causa abolicionista, que inquietava cada vez mais as metrópoles do nordeste brasileiro. Tanto para fugir das agitações populares como para ficar mais perto do novo centro de gravidade econômico do Império, a corte decidiu, em 1682, fundar uma nova capital, Brasília, no Planalto dos Goiases, tornado acessível pelas novas ferrovias e canais fluviais.

Isso não impediu que o movimento de desobediência civil encabeçado pelo líder sindical Zumbi, apoiado pelo poder econômico das cooperativas tupi-guaranis (que desejavam substituir a mão-de-obra escrava pelas suas novas máquinas agrícolas) organizasse uma série de greves e fugas em massa e fundasse em Palmares uma grande cooperativa organizada em moldes semelhantes aos indígenas – e que nas décadas seguintes serviu de modelo para muitas outras cooperativas afro-brasileiras que surgiram por todo o Nordeste, ao longo da bacia do São Francisco e nas Minas Gerais do Sul e do Norte.

Em 1695, a aristocracia foi obrigada a capitular e abolir totalmente a escravidão e o tráfico escravo em todos os domínios imperiais. Ficou consolidado um novo modelo econômico: enquanto o governo imperial implantava a infra-estrutura, planejava o desenvolvimento e provia saúde e educação, a produção agrícola, industrial e mineira era executada pelas poderosas cooperativas tupi-guaranis (mutirões) e afro-brasileiras (quilombos).

Nessas cooperativas, engajaram-se trabalhadores da Europa, Ásia e África atraídos para o Brasil por suas excelentes condições de vida e trabalho – embora os mais agressivos e aventurosos prefirissem se arriscar nas companhias capitalistas de comércio e navegação tocadas por descendentes de portugueses e marranos, que vendiam seus latifúndios às cooperativas para obter mais capitais para suas atividades. Cidades como Piratininga, Guaíra, Sabará, Palmares, Canudos e Carajás tornaram-se os maiores centros industriais do mundo. Santos, Rio de Janeiro, Salvador, Lisboa e Bons Ares tornaram-se os portos mais movimentados do planeta.

O português tornou-se a língua universal da literatura, da ciência, do direito, da filosofia e do comércio. No prefácio da Encyclopedia Brasilica, o francês Dinis Diderot, que veio estudar na prestigiosa Universidade Espinosa – nome tomado pela Universidade Hebraica após a morte de seu mais brilhante mestre e reitor –, chega a escrever que em seu século só era possível filosofar em português..

O tupi, porém, pasou a ser a língua da indústria e da tecnologia: difundiram-se por todo o mundo termos como mboitatá (comboio ferroviário – N.T.), itaetetapé (estrada de ferro) e igatatá (navio a vapor), logo seguidos pelo camburuçu (telégrafo), pelo itajerecauim (motor a álcool) e pelo uiraguaçu (balão dirigível). Fruto da cooperação do físico Bartolomeu de Gusmão e do engenheiro Aimberê Tupiniquim, neto do inventor da locomotiva, o uiraguaçu decolou pela primeira vez, em 1709, do pátio da Escola Politécnica de Piratininga,.

Muito mais importante para os povos do Império, porém, foram as descobertas médicas. A partir de 1700, difunde-se o uso da anestesia e da assepsia, tornando as cirurgias relativamente seguras. Em 1715, o Dr. Guaixara Maracajá descobriu o papel das bactérias em muitas doenças e infecções; nos anos seguintes inventou a primeira vacina e desvendou o papel dos mosquitos e de outros insetos na transmissão de doenças parasitárias. Nas décadas seguintes, as condições sanitárias do Império são enormemente melhoradas com a difusão do saneamento público e o combate aos mosquitos. Em 1736, o Dr. Irecê Kaingang criou o primeiro soro antiofídico. A função das vitaminas também começou a ser compreendida e em 1745 a descoberta dos tipos sangüíneos torna seguras as transfusões de sangue.

Em 1746, a Dra. Na Balam Chan Chel, cientista de origem maia, naturalizada súdita do Império Luso-Brasileiro, desenvolveu, a partir de pesquisas sobre a medicina tradicional de seu povo, a penicilina e a pílula anticoncepcional, logo seguidas pela estreptomicina, descoberta em fungos do solo andino pelo seu discípulo quéchua, Dr. Amaru Mamani.

A Faculdade de Medicina de Piratininga inicia em poucos anos a industrialização dessas descobertas, que causam um enorme impacto na economia e na demografia, ao produzir uma queda dramática nos índices de mortalidade e ao mesmo tempo oferecer o meio para conter a explosão demográfica. O impacto cultural também foi considerável: a difusão dessas descobertas revolucionárias, junto com a popularização do preservativo de látex, tornaram ainda mais desembaraçados os tradicionalmente indulgentes costumes sexuais luso-brasileiros, ampliando o considerável que já existia em relação ao moralismo da Europa e das colônias holandesas.

O marquês de Pombal implantou, em parceria com as cooperativas, os quilombos, os sindicatos operários e as companhias privadas, uma ampla rede de assistência médica e previdência social. Ao mesmo tempo, preocupado com a ascensão do poderio militar dos holandeses e dos impérios europeus, promoveu uma drástica modernização das forças armadas e, principalmente, da Armada. As naus e fragatas foram substituídas por couraçados e cruzadores a vapor que usavam como combustível o petróleo extraído do recôncavo baiano e, depois, também das ilimitadas reservas do vice-reino da Pérsia e Arábia. Mais uma vez, a marinha luso-brasileira avançou décadas à frente das suas rivais e, como se não bastasse, constrói os primeiros piraguaçus (submarinos).

Na década de 1770, surgiu também o nheembaé (telefone). O primeiro serviço comercial foi inaugurado em Piratininga por D. Pedro II e logo em seguida estendido a Salvador e Brasília. A maioria das grandes cidades usava então gás canalizado (produzido por fermentação, de reservas naturais ou a partir de carvão) na iluminação, na cozinha e em aquecimento de caldeiras. O puhãembaé (gramofone) e a endycuatiara (fotografia) eram as febres do momento e revolucionavam a música popular e as artes gráficas.

Os transportes civis também fizeram amplo uso das novas tecnologias. Navios a vapor com cascos de ferro, cada vez maiores, substituem os veleiros na maior parte das rotas marítimas. Em meados do século, uiraguaçus brasileiros – chamados pelos portugueses de passarolas – ligavam Brasília a Lisboa, Cusco, Pequim, Tenochtítlan, Nova Amsterdã e Viena e faziam a volta ao mundo em inacreditáveis quinze dias, passando pelas colônias asiáticas e africanas do Império.

Os serviços de tupãjeré (bonde elétrico) começaram a operar em Piratininga em 1775 e em Salvador em 1779; a maioria das grandes cidades do Império já possuíam bondes puxados a cavalo; serviços de bombeiros, hospitais, policiais. Os mais ricos usavam veículos a vapor, a álcool ou, mais raramente, a itacauim (gasolina) ou itauguí (diesel), chamados moá (caminhões) e moamirim (automóveis).

O imperador João VI, porém, não se adaptou aos novos tempos e tentou mobilizar o Império para uma guerra de conquista ao mundo árabe. Iniciou-se um período de crescentes atritos entre a monarquia e o povo que rapidamente dilapida o capital de simpatia popular que sua dinastia havia acumulado em duzentos anos.

Cresceu rapidamente a popularidade do Partido Republicano. Em 1796, sentindo o poder escapar de suas mãos, o Imperador tentou dissolver o parlamento e provocou uma incontrolável revolta popular. O marechal Joaquim José da Silva Xavier o convenceu a abdicar e proclamou a República Federativa do Brasil.

Logo após sua proclamação, a nova República Federativa do Brasil ofereceu a independência a Portugal e às colônias da África e da Ásia. O exemplo brasileiro, num mundo já agitado por crescentes tensões políticas e sociais, iniciou uma onda de movimentos republicanos e nacionalistas que varreu o mundo. Caíram os tronos de todo o mundo, de Tenochtítlan a Bangkok, com duas exceções: o inca de Cusco e o imperador de Quioto, graças à imemorial tradição que os reputava Filhos do Sol e à sua renúncia ao poder político efetivo.

As eleições brasileiras levaram à Presidência Tomás Antonio Gonzaga, que convidou as demais nações do mundo a unir-se ao Brasil na Comunidade das Nações. As ex-colônias do Império Luso-Brasileiro, o México e o Tahuantinsuyu aderiram rapidamente, assim como muitas outras nações menores. Ficaram de fora, porém, duas grandes potências: a nova Federação Européia e o Império Sino-Japonês.

O filósofo Jorge Hegel, catedrático de filosofia na Universidade Espinosa, proclamou que a Comunidade representa a síntese final das civilizações do planeta e a culminação do desenvolvimento do Espírito Absoluto - em suma, o fim da História.

Anos mais tarde, seu sucessor e discípulo Carlos Marx fundou o materialismo histórico com sua trilogia O Capital, A Cooperativa e O Socialismo Democrático e criticou a Fundação David Ricardo, financiada pelo megaempresário Irineu Evangelista de Sousa para promover as idéias do controvertido economista carioca que havia defendido o liberalismo e a famosa teoria das vantagens comparativas (para Ricardo, todos ganhariam se países de vocação obviamente agropecuária, como a Inglaterra, se especializassem em exportar produtos primários para países industriais, como o Brasil).

Apesar de Hegel, a História se recusou a acabar. A Comunidade das Nações foi desafiada pelo surgimento de um poderoso movimento reacionário na Federação Européia, que chega ao poder proclamando o II Reich e o direito da raça ariana a governar o planeta. Em 1865, sob a liderança do Führer Richard Wagner e de seu ministro da propaganda Gobineau, o Reich invadiu a Colômbia do Norte pelo Alasca, ameaçando Nova Amsterdã e Tenochtítlan, onde havia se refugiado o dissidente Friedrich Nietzsche, ex-companheiro de Wagner que se tornou seu mais figadal inimigo.

Bombardeiros brasileiros e incas detêm o avanço europeu na Colômbia do Norte e sobrevoam Viena, Roma e Bayreuth, enquanto submarinos brasileiros e astecas interromperam o abastecimento das tropas do Reich. No quarto ano da guerra, os brasileiros testam a primeira bomba atômica sobre a frota européia ancorada em Scapa Flow, que se imaginava fora do alcance da aviação aliada. Os resultados devastadores abalaram seriamente a moral das massas e dos generais do Reich, mas Wagner insistiu na guerra.

O governo brasileiro não aceitou a sugestão dos aliados de usar a bomba em alvos civis, mas negociou o decisivo apoio sino-japonês. Em 1870, os brasileiros estavam às portas de Viena e os sino-japoneses se aproximavam de Moscou. Finalmente convencido da inevitabilidade da derrota, Wagner assinou uma rendição incondicional, poupando seu povo e o que restava de seus fanáticos. Graças a isso, sua pena de morte foi comutada para prisão perpétua pela Presidenta Anita Garibaldi, comandante suprema dos aliados. A democracia foi restaurada na Europa e em 1905 o agradecido Max Weber escreveu A Ética Espinosista e o Espírito do Cooperativismo.

No ano seguinte, o gigantesco foguete inca-brasileiro Illapa-Tupã 5 partiu de Alcântara e o mundo assiste pela sambiri (TV) quando os astronautas Alberto Santos-Dumont e Sinchi Yupanqui desceram do módulo Jacy 14bis para se tornarem os primeiros homens a pisar a superfície da Lua.

O inventor brasileiro Landell de Moura desenvolveu o itapehemirin (microchip), permitindo que, em 1930, o Presidente João Cândido inaugurasse a Porandutepé (Internet) e anunciasse a decifração do código genético logo depois de receber, ao lado do inca Manco Cápac IV e da Presidenta européia Rosa Luxemburgo, a missão trinacional Kuntur, que voltava de Marte sob a liderança do astronauta Luís Carlos Prestes. No mesmo ano, o português Egas Muniz realizou o primeiro transplante de cérebro e o brasileiro Manuel de Abreu anunciou a cura do câncer.

Em 1964, graças aos avanços da robótica, a Comunidade das Nações proclamou a semana de trabalho de 24 horas em todo o planeta. Foi nesse mesmo ano que a astronave multinacional Apytuupoty, comandada pela astronauta Carolina Maria de Jesus, a Bitita, partiu da estação espacial inca Tumi rumo a Alfa Centauri, onde quatro anos antes o radiotelescópio de Arecibo havia detectado os sinais de uma civilização misteriosa.

De acordo com a programação da viagem, a tripulação, mantida em animação suspensa por 36 anos, foi reanimada há poucas semanas. Hoje, neste 22 de abril de 2000, está a desembarcar no planeta Xochiquetzal no mesmo exato momento em que nosso planeta Terra abrirá as comemorações dos 500 anos de um descobrimento que não só o Brasil, como toda a humanidade, se une para comemorar.

Só saberemos os resultados deste novo descobrimento, porém, em 9 de agosto de 2004, devido à distância de mais de 4 anos-luz entre Xochiquetzal e a Terra. Até lá, poderá ter sido votada e aprovada a mais profunda reforma da estrutura governamental da Comunidade das Nações desde sua fundação. Se tudo der certo, no ano que vem a Constituinte Mundial aprovará a transformação da Comunidade das Nações na Federação da Terra, a abolição dos Estados nacionais e sua substituição por uma confederação descentralizada de cooperativas e comunidades. Se aprovada em plebiscito em 2003, entrará em vigor em 2005. Esta é uma outra história, cuja importância vamos discutir na edição da semana que vem – mas que, como nossos amiguinhos devem ter entendido, tem muito a ver com a deste 22 de abril.

 


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