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Outros 500
Antonio
Luiz Costa
Caros Editores de Scarium:
Por algum desses mistérios da Internet,
meu computador parece ter acessado momentaneamente a rede de
computadores de um universo paralelo. Caiu no portal de um jornal
infantil, com versões em tupi e português, que ainda guardava um texto
muito interessante sobre as comemorações dos 500 anos do Descobrimento.
Transcrevo-o abaixo por pensar que isto talvez seja do interesse de
seus leitores.
Atenciosamente,
Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa
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Piratininga, sábado, 15
de abril de 2000
História
PODIA SER DIFERENTE
Da historiadora Potyra
Tapirapé Pataxó, para Porandutepé Curumim
(traduzido do tupi para
o português por Severino dos Santos)
Não só os leitores deste
jornal eletrônico infantil, como todas as crianças do Brasil e do mundo
estão louquinhas pelos fogos e festejos que vão marcar os 500 anos do
descobrimento na linda cidade de Nhoesembé (conhecida, em português,
como Porto Seguro – N.T.). Divertir-se com os espetáculos programados é
bom e importante, mas será ainda mais emocionante se souberem toda a
história da aventura dos Descobrimentos e de seus resultados. Se
houvesse sido de outra forma, o mundo seria hoje muito diferente e,
talvez, não tão feliz.
Tudo poderia ter sido
muito diferente se Afonso V não se houvesse enamorado de uma bela
fidalga portuguesa, D. Ana, secretamente convertida à heresia dos
cátaros – que sobrevivia na clandestinidade depois de reprimida pela
Cruzada Albigense do século XIII – e desistiu de seu plano de desposar
a herdeira do trono de Castela e juntar a coroa de Castela à de
Portugal.
Em vez disso, concentrou
seus esforços em fortalecer as finanças do reino e em apoiar e
continuar as explorações iniciadas por seu irmão. Influenciado pela
esposa, encetou uma política de tolerância religiosa e, apesar de
permanecer fiel ao catolicismo, abrandou a tratamento dado a mouros e
judeus e permitiu que o catarismo voltasse a ser praticado à luz do
dia, para irritação do clero e do papado. Discretamente instigado pelo
papa, em 1476 o rei de Castela lançou um ataque a Portugal, mas foi
derrotado na batalha de Toro pelo exército comandado pelo infante D.
João, herdeiro de D. Afonso V.
Seu sucessor, D. João
II, deu novo e poderoso impulso às navegações. Por sua ordem, Diogo de
Azambuja funda na Costa da Mina o castelo de São Jorge. Salvador
Fernandes Zarco, que por razões numerológicas se fazia chamar pelo
pseudônimo de Colombo, retomou um antigo projeto de travessia do
Atlântico e em 12 de outubro de 1482 descobriu as Antilhas.
Em 1483, Colombo fez sua
segunda expedição, descobriu as costas do continente que se estende a
oeste das Antilhas e o poderoso Império Asteca, governado então pelo tlatoani
Ahuízotl. Em 1487, enquanto outros navegadores começavam a estabelecer
missões comerciais e diplomáticas junto a Ahuízotl, sua terceira missão
explorou as costas atlânticas do novo continente até chegar à
Patagônia, no extremo Sul. Após esse extenso mapeamento, o novo mundo
passou a ser conhecido com o nome de Colômbia.
D. João II era justo,
perspicaz e tolerante, como bem o demonstrou, permitindo que entrassem
em Portugal milhares de judeus e mouros que o fanatismo religioso de
Fernando e Isabel expulsara de Espanha.
Filho de D. João II e de
D. Leonor, D. Manuel I continuou a bem-sucedida política de tolerância
religiosa de seu avô e de seu pai, bem como as explorações marítimas
cada vez mais rendosas. Foram tantos os acontecimentos felizes e
gloriosos para Portugal, durante o reinado de D. Manuel I, que este
ficou sendo chamado o Venturoso.
Em 1498, Vasco da gama
aportou a Calicute, tendo descoberto o caminho marítimo da Índia,
enquanto a quarta expedição de Salvador Zarco, seguindo indicações de
indígenas da costa sul-colombiana que falavam da existência de um
grande império no interior, subiu os rios Paraná e Paraguai, até
encontrar, à beira deste rio, uma excelente estrada de pedra. Seguindo
por terra à frente de um pequeno destacamento, encontrou a cidade
incaica de Samaipata e e lá foi conduzido a Cusco, a capital, onde foi
recebido pelo próprio Sapan Inca, Huayna Cápac. Em sua viagem de volta,
Zarco foi ferido de morte pela picada de uma jararaca, mas a notícia do
novo descobrimento foi devidamente conduzida a Portugal por seu
lugar-tenente, Aleixo Garcia.
Foi dois anos depois que
Pedro Álvares Cabral comandou a maior frota até então já armada, com
uma dupla missão colonizadora. Em 22 de abril de 1500 tomou posse,
oficialmente, da costa da Colômbia do Sul para o rei de Portugal. A
região foi oficialmente denominada Terra de Santa Cruz, mas logo
conhecida como Brasil – e nela deixou centenas de homens, fundou uma
cidade a que deu o nome de Salvador em homenagem ao descobridor do Novo
Mundo.
Lá deixou parte de sua
frota sob o comando do primeiro vice-rei do Brasil, Pero Vaz de
Caminha, para defender o litoral de piratas e de possíveis invasões e
dar apoio ao trabalho de colonização. Com o restante dos navios,
prossegue rumo à Índia, onde estabelece outra colônia portuguesa, que
D. Francisco de Almeida e Duarte Pacheco ampliam e consolidam.
Enquanto isso, Gaspar
Corte Real explorava a costa da Colômbia do Norte e chegava ao Canadá e
o o vice-rei da Índia D. Afonso de Albuquerque (1453-1515) conquistava
Ormuz, Goa, Málaca e Áden, fundando um imenso império português na
Ásia. No final de seu reinado, de 1519 a 1521, uma frota capitaneada
por Fernão de Magalhães completou, a serviço de Portugal, a primeira
circunavegação do globo terrestre.
O sucessor de D. Manuel,
João III, continuou a resistir com habilidade e firmeza às tentativas
da Igreja de estabelecer a Inquisição em Portugal para perseguir
judeus, mouros, cátaros e protestantes. Reformou a Universidade de
Coimbra, mandou fundar novas universidades em Lisboa, Salvador e Goa e
empenhou-se na colonização das Índias, do Brasil e da África. Mandou
vir do estrangeiro destacados mestres para reger suas cátedras e
estimular as letras, a arquitetura, as ciências e as artes, incluindo
Leonardo da Vinci e Miguel Ângelo Buonarotti.
D. João III promoveu o
desenvolvimento das manufaturas na metrópole e nas colônias e fez de
Portugal não só um rico entreposto comercial, como também um produtor
de riquezas à altura de competir com os holandeses. Em 1535 ofereceu
asilo a Tomás Moro, chanceler do rei da Inglaterra Henrique VIII que
caíra em desgraça por se recusar a reconhecer o poder espiritual do
rei. Fez dele um dos seus principais conselheiros.
Ainda por três gerações
depois da descoberta do Brasil, Portugal continuou a ser um oásis de
paz e prosperidade numa Europa assolada pelas guerras religiosas e
seduziu empreendedores, artistas e pensadores de todo o continente. A
opulenta corte de Lisboa atraiu a seu serviço talentos como Leonardo da
Vinci, Ambroise Paré, Michelangelo Buonarotti e Galileu Galilei;
dissidentes perseguidos pela intolerância católica ou protestante, como
Giordano Bruno e Thomas More, ali encontraram abrigo seguro.
A idade de ouro
portuguesa, hoje lembrada como o ponto culminante do Renascimento,
atraiu a inveja dos demais reinos europeus. Em 1590 veio o desastre:
França, Áustria e a recém-unificada Espanha atenderam ao apelo da
quarta sessão do Concílio de Trento por uma cruzada contra os relapsos
portugueses e os protestantes do norte da Europa, em troca da promessa
de partilha de suas riquezas e colônias. Portugal já dominava os mares,
mas como seu exército de terra dificilmente poderia resistir às tropas
reunidas dos reis católicos, D. Sebastião, experiente e realista,
organizou uma colossal evacuação em massa.
Protegida pela maior e
mais moderna esquadra do mundo, a corte portuguesa, junto com grandes
mercadores e seus protegidos, refugiou-se na jovem capital da
florescente colônia do Brasil. Portugal foi invadido, mas em Salvador
da Bahia a dinastia de Avis celebrou com os refugiados um novo pacto,
proclamando o novo Império de Portugal, Brasil e Algarves e, pela
primeira vez no Ocidente, a total liberdade de culto. Parcela
expressiva da Igreja luso-brasileira, liderada por jesuítas
dissidentes, rompeu com Roma e colaborou com o Imperador. Em aliança
com judeus sefaraditas, cátaros e mouros portugueses que haviam
acompanhado D. Sebastião a Salvador, fundaram a Igreja Ecumênica,
também conhecida como Sebastianista.
Carente de homens e
necessitando garantir as costas americanas contra piratas e eventuais
invasores, Sebastião I assinou duradouras alianças com o inca Túpac
Amaru e o tlatoani Cuautémoc e seu chanceler Fernão Moro – fascinado
pelas idéias de seu avô Tomás Moro – concebeu um plano grandioso para
incorporar tupis e guaranis à causa portuguesa, sob o lema "morrer
se preciso for, matar um indígena nunca!". Foi implementado por
ex-jesuítas que, em colaboração com sertanistas como Brás Cubas e João
Ramalho, partiram de Piratininga e do Maranhão para fundar missões ao
longo das bacias do Paraná, Paraguai e Amazonas, onde oferecem aos
tupis os benefícios da civilização lusa, mas os alfabetizaram em sua
própria língua e os educaram no trabalho regular, na cooperação e no
desprezo pelo luxo.
Sertanistas descobrem
enormes jazidas de ouro e ferro nas serras de Sabará e dos Carajás (que
passam a ser conhecidas como Minas Gerais do Sul e do Norte) e a
serviço dos aliados incas e astecas, descobrem imensas jazidas de prata
em seus domínios. A abundância de metais preciosos provocou forte
inflação nos domínios portugueses, mas também abriu o caminho para um
rápido crescimento da economia. D. Sebastião mandou cunhar com o ouro
das Minas Gerais uma nova moeda com o valor de mil réis, que por ser
marcada com a constelação do Cruzeiro do Sul, passou a ser conhecida
como cruzeiro.
Essa fabulosa riqueza
acelerou o rearmamento do Império e estimula o desenvolvimento da
manufatura nas industriosas missões tupi-guaranis que, através da
intermediação dos mercadores portugueses, importam metais dos novos
centros mineiros, açúcar e algodão das plantações da Bahia e de
Pernambuco e lã de alpaca e cereais dos Andes, enquanto exportam
artesanato, armas, tecidos, bebidas e conservas para mineiros do norte
e do sul e para as opulentas cortes de Salvador, Cusco e Tenochtítlan.
Prosseguiam, enquanto
isso, as guerras religiosas, nas quais a Santa Aliança dos reinos
europeus colhera importantes vitórias. Em vez de enfrentar a marinha
portuguesa ocupada com a evacuação, a "Invencível Armada"
franco-espanhola desembarcou para depor Elizabeth I. Subiu ao trono sua
prisioneira escocesa, a católica Mary Stuart, mas ela esgotou os
recursos do seu reino combatendo Portugal.
Pouco depois, com apoio
francês, os austríacos obtiveram uma vitória decisiva sobre os
prussianos e anexaram os ducados protestantes do norte da Alemanha.
Isto fez do Sacro Império Romano-Germânico uma poderosa realidade
política e encurralou os protestantes no extremo norte da Europa, onde
resistiram sob a liderança do brilhante estrategista sueco Gustavo
Adolfo. A Aliança não conseguiu, porém, arranhar a hegemonia portuguesa
no ultramar, nem obter uma vitória definitiva no continente: em
Portugal e na Holanda uma intrépida resistência popular foi alimentada
por ouro e suprimentos sul-americanos.
Enquanto isso, os
chineses, invadidos por bárbaros, pediam socorro aos japoneses, que
destroçaram facilmente os arqueiros manchus com canhões e mosquetes
importados das fundições tupi-guaranis. Os mandarins, agradecidos,
proclamaram que o Mandato do Céu havia caído sobre a dinastia Yamato,
que permaneceu em Quioto mas enviou o xógum Tokugawa Ieyasu para reger
o império sino-japonês.
Acontecimento ainda mais
importante ocorreu em Sabará, onde o engenheiro de minas Tibiriçá
Tamoio e seu jovem aprendiz Manuel Borba Gato construíram em 1649 uma
máquina a vapor, invenção que rapidamente se difundiu pelas
cooperativas tupi-guaranis e desencadeou a Revolução Industrial.
Pouco depois, os
mercadores Raposo Tavares e Fernão Dias Pais, a serviço da Cooperativa
Agroindustrial de Piratininga, instalaram máquinas a vapor em navios
fluviais, fundam uma companhia de navegação e convenceram o governo
imperial a construir canais que interligassem os grandes rios do
continente e permitissem cruzar o continente do Prata ao Orenoco.
Araribóia Tupiniquim construiu a primeira locomotiva e pouco depois a
primeira estrada de ferro une Piratininga ao porto de Santos, logo
sucedida por outras que complementam a rede hidroviária e estendem
rotas comerciais aos domínios incas e astecas.
Enquanto isso, os
filósofos Uriel da Costa e Bento Espinosa lançaram as fundações de um
novo racionalismo que a história viria reconhecer como o Iluminismo
Baiano, ao qual se juntaram muitos novos refugiados da Inquisição
européia, como Descartes. A partir da Ética espinosista, os
ideais de liberdade, igualdade e fraternidade conquistaram a brilhante
intelectualidade tropical.
Essa filosofia,
vulgarizada pela elaboração teológica da sincrética e progressista
igreja sebastianista, alcançou as massas indígenas e mestiças, entre as
quais a escravidão começou a ser seriamente questionada. O parlamento
imperial promulgou leis trabalhistas garantindo aos escravos o direito
de comprar a própria liberdade e a alforria automática das vítimas de
excessos e dos escravos oferecidos para o serviço no Exército ou na
Armada.
A guerra européia foi
retomada em 1670, quando o almirante Domingos Calabar esmagou a
"Invencível Armada" e desembarcou na Península Ibérica de dezenas de
milhares de guerreiros brasileiros, incas e astecas.
Com a morte em batalha
do general Domingos Jorge Velho, seu imediato Ganga Zumba assumiu o
comando das forças de terra e obtém em Bragança uma vitória decisiva
sobre a Santa Aliança, cujo negociador, o cardeal Mazarino, aceita não
só a paz com Portugal, Holanda e Suécia, como a entrega de Castela aos
incas e astecas e das colônias francesas e inglesas da Colômbia do
Norte aos holandeses. Madri passou a se chamar Caxtlitítlan e um templo
do Sol foi erguido sobre as ruínas da catedral de Sevilha, capital da
nova província inca de Wantallusuyu, mas os portugueses, contentes por
disporem de aliados fiéis entre eles e os rancorosos reis europeus,
fecharam os olhos a tais excessos.
A essa altura, o poder
em Salvador pertencia a uma geração que não conhecia Lisboa e cujos
poderosos interesses estavam ligados à avalanche de riquezas mineiras,
agrícolas e industriais que jorravam do continente colombiano. Em vez
de voltar a uma Europa depredada por décadas de guerra, a corte
limitou-se a nomear um vice-rei para Portugal (o Marquês de Montalvão)
e enviar os recursos necessários para reconstruir e industrializar o
pequeno país; os portugueses, apesar de um pouco frustrados, acabam
dando-se por satisfeitos com a volta da prosperidade e o papel de
cabeça-de-ponte européia de um império onde o sol nunca se põe.
O brilho do general
negro impulsionou a causa abolicionista, que inquietava cada vez mais
as metrópoles do nordeste brasileiro. Tanto para fugir das agitações
populares como para ficar mais perto do novo centro de gravidade
econômico do Império, a corte decidiu, em 1682, fundar uma nova
capital, Brasília, no Planalto dos Goiases, tornado acessível pelas
novas ferrovias e canais fluviais.
Isso não impediu que o
movimento de desobediência civil encabeçado pelo líder sindical Zumbi,
apoiado pelo poder econômico das cooperativas tupi-guaranis (que
desejavam substituir a mão-de-obra escrava pelas suas novas máquinas
agrícolas) organizasse uma série de greves e fugas em massa e fundasse
em Palmares uma grande cooperativa organizada em moldes semelhantes aos
indígenas – e que nas décadas seguintes serviu de modelo para muitas
outras cooperativas afro-brasileiras que surgiram por todo o Nordeste,
ao longo da bacia do São Francisco e nas Minas Gerais do Sul e do Norte.
Em 1695, a aristocracia
foi obrigada a capitular e abolir totalmente a escravidão e o tráfico
escravo em todos os domínios imperiais. Ficou consolidado um novo
modelo econômico: enquanto o governo imperial implantava a
infra-estrutura, planejava o desenvolvimento e provia saúde e educação,
a produção agrícola, industrial e mineira era executada pelas poderosas
cooperativas tupi-guaranis (mutirões) e afro-brasileiras (quilombos).
Nessas cooperativas,
engajaram-se trabalhadores da Europa, Ásia e África atraídos para o
Brasil por suas excelentes condições de vida e trabalho – embora os
mais agressivos e aventurosos prefirissem se arriscar nas companhias
capitalistas de comércio e navegação tocadas por descendentes de
portugueses e marranos, que vendiam seus latifúndios às cooperativas
para obter mais capitais para suas atividades. Cidades como
Piratininga, Guaíra, Sabará, Palmares, Canudos e Carajás tornaram-se os
maiores centros industriais do mundo. Santos, Rio de Janeiro, Salvador,
Lisboa e Bons Ares tornaram-se os portos mais movimentados do planeta.
O português tornou-se a
língua universal da literatura, da ciência, do direito, da filosofia e
do comércio. No prefácio da Encyclopedia Brasilica, o francês
Dinis Diderot, que veio estudar na prestigiosa Universidade Espinosa –
nome tomado pela Universidade Hebraica após a morte de seu mais
brilhante mestre e reitor –, chega a escrever que em seu século só era
possível filosofar em português..
O tupi, porém, pasou a
ser a língua da indústria e da tecnologia: difundiram-se por todo o
mundo termos como mboitatá (comboio ferroviário – N.T.), itaetetapé
(estrada de ferro) e igatatá (navio a vapor), logo seguidos pelo
camburuçu (telégrafo), pelo itajerecauim (motor a álcool) e pelo
uiraguaçu (balão dirigível). Fruto da cooperação do físico Bartolomeu
de Gusmão e do engenheiro Aimberê Tupiniquim, neto do inventor da
locomotiva, o uiraguaçu decolou pela primeira vez, em 1709, do pátio da
Escola Politécnica de Piratininga,.
Muito mais importante
para os povos do Império, porém, foram as descobertas médicas. A partir
de 1700, difunde-se o uso da anestesia e da assepsia, tornando as
cirurgias relativamente seguras. Em 1715, o Dr. Guaixara Maracajá
descobriu o papel das bactérias em muitas doenças e infecções; nos anos
seguintes inventou a primeira vacina e desvendou o papel dos mosquitos
e de outros insetos na transmissão de doenças parasitárias. Nas décadas
seguintes, as condições sanitárias do Império são enormemente
melhoradas com a difusão do saneamento público e o combate aos
mosquitos. Em 1736, o Dr. Irecê Kaingang criou o primeiro soro
antiofídico. A função das vitaminas também começou a ser compreendida e
em 1745 a descoberta dos tipos sangüíneos torna seguras as transfusões
de sangue.
Em 1746, a Dra. Na Balam
Chan Chel, cientista de origem maia, naturalizada súdita do Império
Luso-Brasileiro, desenvolveu, a partir de pesquisas sobre a medicina
tradicional de seu povo, a penicilina e a pílula anticoncepcional, logo
seguidas pela estreptomicina, descoberta em fungos do solo andino pelo
seu discípulo quéchua, Dr. Amaru Mamani.
A Faculdade de Medicina
de Piratininga inicia em poucos anos a industrialização dessas
descobertas, que causam um enorme impacto na economia e na demografia,
ao produzir uma queda dramática nos índices de mortalidade e ao mesmo
tempo oferecer o meio para conter a explosão demográfica. O impacto
cultural também foi considerável: a difusão dessas descobertas
revolucionárias, junto com a popularização do preservativo de látex,
tornaram ainda mais desembaraçados os tradicionalmente indulgentes
costumes sexuais luso-brasileiros, ampliando o considerável que já
existia em relação ao moralismo da Europa e das colônias holandesas.
O marquês de Pombal
implantou, em parceria com as cooperativas, os quilombos, os sindicatos
operários e as companhias privadas, uma ampla rede de assistência
médica e previdência social. Ao mesmo tempo, preocupado com a ascensão
do poderio militar dos holandeses e dos impérios europeus, promoveu uma
drástica modernização das forças armadas e, principalmente, da Armada.
As naus e fragatas foram substituídas por couraçados e cruzadores a
vapor que usavam como combustível o petróleo extraído do recôncavo
baiano e, depois, também das ilimitadas reservas do vice-reino da
Pérsia e Arábia. Mais uma vez, a marinha luso-brasileira avançou
décadas à frente das suas rivais e, como se não bastasse, constrói os
primeiros piraguaçus (submarinos).
Na década de 1770,
surgiu também o nheembaé (telefone). O primeiro serviço comercial foi
inaugurado em Piratininga por D. Pedro II e logo em seguida estendido a
Salvador e Brasília. A maioria das grandes cidades usava então gás
canalizado (produzido por fermentação, de reservas naturais ou a partir
de carvão) na iluminação, na cozinha e em aquecimento de caldeiras. O
puhãembaé (gramofone) e a endycuatiara (fotografia) eram as febres do
momento e revolucionavam a música popular e as artes gráficas.
Os transportes civis
também fizeram amplo uso das novas tecnologias. Navios a vapor com
cascos de ferro, cada vez maiores, substituem os veleiros na maior
parte das rotas marítimas. Em meados do século, uiraguaçus brasileiros
– chamados pelos portugueses de passarolas – ligavam Brasília a Lisboa,
Cusco, Pequim, Tenochtítlan, Nova Amsterdã e Viena e faziam a volta ao
mundo em inacreditáveis quinze dias, passando pelas colônias asiáticas
e africanas do Império.
Os serviços de tupãjeré
(bonde elétrico) começaram a operar em Piratininga em 1775 e em
Salvador em 1779; a maioria das grandes cidades do Império já possuíam
bondes puxados a cavalo; serviços de bombeiros, hospitais, policiais.
Os mais ricos usavam veículos a vapor, a álcool ou, mais raramente, a
itacauim (gasolina) ou itauguí (diesel), chamados moá (caminhões) e
moamirim (automóveis).
O imperador João VI,
porém, não se adaptou aos novos tempos e tentou mobilizar o Império
para uma guerra de conquista ao mundo árabe. Iniciou-se um período de
crescentes atritos entre a monarquia e o povo que rapidamente dilapida
o capital de simpatia popular que sua dinastia havia acumulado em
duzentos anos.
Cresceu rapidamente a
popularidade do Partido Republicano. Em 1796, sentindo o poder escapar
de suas mãos, o Imperador tentou dissolver o parlamento e provocou uma
incontrolável revolta popular. O marechal Joaquim José da Silva Xavier
o convenceu a abdicar e proclamou a República Federativa do Brasil.
Logo após sua
proclamação, a nova República Federativa do Brasil ofereceu a
independência a Portugal e às colônias da África e da Ásia. O exemplo
brasileiro, num mundo já agitado por crescentes tensões políticas e
sociais, iniciou uma onda de movimentos republicanos e nacionalistas
que varreu o mundo. Caíram os tronos de todo o mundo, de Tenochtítlan a
Bangkok, com duas exceções: o inca de Cusco e o imperador de Quioto,
graças à imemorial tradição que os reputava Filhos do Sol e à sua
renúncia ao poder político efetivo.
As eleições brasileiras
levaram à Presidência Tomás Antonio Gonzaga, que convidou as demais
nações do mundo a unir-se ao Brasil na Comunidade das Nações. As
ex-colônias do Império Luso-Brasileiro, o México e o Tahuantinsuyu
aderiram rapidamente, assim como muitas outras nações menores. Ficaram
de fora, porém, duas grandes potências: a nova Federação Européia e o
Império Sino-Japonês.
O filósofo Jorge Hegel,
catedrático de filosofia na Universidade Espinosa, proclamou que a
Comunidade representa a síntese final das civilizações do planeta e a
culminação do desenvolvimento do Espírito Absoluto - em suma, o fim da
História.
Anos mais tarde, seu
sucessor e discípulo Carlos Marx fundou o materialismo histórico com
sua trilogia O Capital, A Cooperativa e O Socialismo
Democrático e criticou a Fundação David Ricardo, financiada pelo
megaempresário Irineu Evangelista de Sousa para promover as idéias do
controvertido economista carioca que havia defendido o liberalismo e a
famosa teoria das vantagens comparativas (para Ricardo, todos ganhariam
se países de vocação obviamente agropecuária, como a Inglaterra, se
especializassem em exportar produtos primários para países industriais,
como o Brasil).
Apesar de Hegel, a
História se recusou a acabar. A Comunidade das Nações foi desafiada
pelo surgimento de um poderoso movimento reacionário na Federação
Européia, que chega ao poder proclamando o II Reich e o direito da raça
ariana a governar o planeta. Em 1865, sob a liderança do Führer Richard
Wagner e de seu ministro da propaganda Gobineau, o Reich invadiu a
Colômbia do Norte pelo Alasca, ameaçando Nova Amsterdã e Tenochtítlan,
onde havia se refugiado o dissidente Friedrich Nietzsche,
ex-companheiro de Wagner que se tornou seu mais figadal inimigo.
Bombardeiros brasileiros
e incas detêm o avanço europeu na Colômbia do Norte e sobrevoam Viena,
Roma e Bayreuth, enquanto submarinos brasileiros e astecas
interromperam o abastecimento das tropas do Reich. No quarto ano da
guerra, os brasileiros testam a primeira bomba atômica sobre a frota
européia ancorada em Scapa Flow, que se imaginava fora do alcance da
aviação aliada. Os resultados devastadores abalaram seriamente a moral
das massas e dos generais do Reich, mas Wagner insistiu na guerra.
O governo brasileiro não
aceitou a sugestão dos aliados de usar a bomba em alvos civis, mas
negociou o decisivo apoio sino-japonês. Em 1870, os brasileiros estavam
às portas de Viena e os sino-japoneses se aproximavam de Moscou.
Finalmente convencido da inevitabilidade da derrota, Wagner assinou uma
rendição incondicional, poupando seu povo e o que restava de seus
fanáticos. Graças a isso, sua pena de morte foi comutada para prisão
perpétua pela Presidenta Anita Garibaldi, comandante suprema dos
aliados. A democracia foi restaurada na Europa e em 1905 o agradecido
Max Weber escreveu A Ética Espinosista e o Espírito do
Cooperativismo.
No ano seguinte, o
gigantesco foguete inca-brasileiro Illapa-Tupã 5 partiu de Alcântara e
o mundo assiste pela sambiri (TV) quando os astronautas Alberto
Santos-Dumont e Sinchi Yupanqui desceram do módulo Jacy 14bis para se
tornarem os primeiros homens a pisar a superfície da Lua.
O inventor brasileiro
Landell de Moura desenvolveu o itapehemirin (microchip), permitindo
que, em 1930, o Presidente João Cândido inaugurasse a Porandutepé
(Internet) e anunciasse a decifração do código genético logo depois de
receber, ao lado do inca Manco Cápac IV e da Presidenta européia Rosa
Luxemburgo, a missão trinacional Kuntur, que voltava de Marte
sob a liderança do astronauta Luís Carlos Prestes. No mesmo ano, o
português Egas Muniz realizou o primeiro transplante de cérebro e o
brasileiro Manuel de Abreu anunciou a cura do câncer.
Em 1964, graças aos
avanços da robótica, a Comunidade das Nações proclamou a semana de
trabalho de 24 horas em todo o planeta. Foi nesse mesmo ano que a
astronave multinacional Apytuupoty, comandada pela astronauta
Carolina Maria de Jesus, a Bitita, partiu da estação espacial inca Tumi
rumo a Alfa Centauri, onde quatro anos antes o radiotelescópio de
Arecibo havia detectado os sinais de uma civilização misteriosa.
De acordo com a
programação da viagem, a tripulação, mantida em animação suspensa por
36 anos, foi reanimada há poucas semanas. Hoje, neste 22 de abril de
2000, está a desembarcar no planeta Xochiquetzal no mesmo exato momento
em que nosso planeta Terra abrirá as comemorações dos 500 anos de um
descobrimento que não só o Brasil, como toda a humanidade, se une para
comemorar.
Só saberemos os
resultados deste novo descobrimento, porém, em 9 de agosto de 2004,
devido à distância de mais de 4 anos-luz entre Xochiquetzal e a Terra.
Até lá, poderá ter sido votada e aprovada a mais profunda reforma da
estrutura governamental da Comunidade das Nações desde sua fundação. Se
tudo der certo, no ano que vem a Constituinte Mundial aprovará a
transformação da Comunidade das Nações na Federação da Terra, a
abolição dos Estados nacionais e sua substituição por uma confederação
descentralizada de cooperativas e comunidades. Se aprovada em
plebiscito em 2003, entrará em vigor em 2005. Esta é uma outra
história, cuja importância vamos discutir na edição da semana que vem –
mas que, como nossos amiguinhos devem ter entendido, tem muito a ver
com a deste 22 de abril.
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