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A
humanidade esta em ritmo de sofrer mais um processo de
adaptação ao ambiente, devido a seleção natural. Surgem os Mutantes,
um novo tipo de homem para além do homo - sapiens. E o professor Xavier
é o guia e mentor desta nova raça, que pretende a paz com os
não-mutantes, salvo pelo seu arquiinimigo, Magneto. A escola de Xavier
foi várias vezes atacada pelas forças do governo dos Estados Unidos.
E, podemos notar que os X-men que desejam a paz, são mais perseguidos
que Magneto e outros mutantes "terroristas".
Esses
são os fios condutores de X-men. Tudo é corriqueiro, mas a mensagem de
Stan Lee, sob a simplicidade do comics book, é por demais séria. Tão
séria que, em determinando momento do filme X-men II, Xavier e seus
comandados, os mutantes, entram todos na sala do Presidente dos Estados
Unidos e dizem: "viemos para ficar ". Parecem os democratas,
indo e vindo na Casa Branca, com as calças nas mãos, charutos fora de
controle e secretárias gordinhas, tinham uma facilidade maior de
brincar com o poder, de não torná-lo tão sério e, portanto, tão
perigoso quanto os republicanos, em especial George Bush – o homem que
realmente, de uma vez, vai dar razão a todo e qualquer Axterix que vier
a falar que a Pax Americana é a do cemitério.
Se
os bárbaros exteriores às fronteiras mais próximas da nova Roma, NY,
podem ser controlados pelas forças militares com a chamada "guerra
inteligente", o que fazer com os mutantes, que não estão só
vivendo em vários lugares do mundo mas possuem uma escola de
treinamento bem no seio do império, bem nos Estados Unidos da América?
Bush deverá comandar, cedo ou tarde, para a alegria e razão de
Magneto, uma intervenção mais eficaz na escola do professor Xavier, ou
ele vai continuar a política, desejada por alguns de seu partido, de
registro e cadastro dos mutantes, de modo a sabermos o que fazer com os
que possuem uma língua dupla?
O
império de Bush pode ter, na ilha cubana, uma prisão para bárbaros.
Pode invadir países bárbaros e ensinar a lição que outros, no
passado, teimaram em não aprender, ou seja, a de aceitar a modernidade
capitalista sob um controle de determinados setores industriais e não
de outros. Mas Bush colocaria na cadeia um norte-americano da gema, como
o professor Xavier? Ele injetaria veneno, por conta do Estado, em
Wolverine, fazendo o guerreiro se calar caso este venha a dizer que
talvez Magneto não esteja tão errado, e que é uma questão de tempo o
ataque a todos os mutantes, como foi uma questão de tempo o ataque ao
Oriente?
Parece
que Stan Lee, há trinta anos, quando começou a ver que a realidade do
império era a que ele tinha nas mãos, não poderia prever que, ao
chegar nas telas, o professor Xavier e sua turma estivessem fora de ser
uma ficção, e que fossem a história da vida cotidiana do império.
Pois se ele realmente pudesse prever isso, talvez não tivesse
continuado. O horror do futuro, que hoje é presente, o teria feito
parar quando os bárbaros eram apenas russos, um povo que nunca deveria
ter amedrontado ninguém, uma vez que beijavam todo mundo e gostavam
mais de vodca do que de Deus.
Richard
Rorty um filósofo americano que ousou dizer algo contra a matança nos
países bárbaros, deixa claro que os mutantes temem que eles, ou o
resto do que era o império nos anos sessenta, tenham sucumbido de uma
vez a nova oligarquia militar e petrolífera. Qual mutante, nos tempos
atuais, arriscaria de fato sair mostrando sua língua por aí, como o
garoto do filme?
Em
tempos em que ser americano, ou imitar muito bem os americanos, é
participar ativamente da moderna sociedade capitalista, quem quer ser
comunista, anarquista, ou fanzineiro independente, lutando contra os
grandes? Não estar enquadrado no modelo ocidental é a maior
transgressão, vício, má ação que pode-se cometer, um pecado grave
sem duvida, que faz a pobre criatura perder o direito ao céu de consumo
e individualismo, transviado na palavra democracia.
Todos
que tem língua dupla, como o garoto do filme, deveriam exibí-la? Creio
que somente as crianças, pela ingenuidade, poderiam fazer isso.
Quem é mutante, quem tem língua dupla, não vai exibí-la por aí.
Quem sabe inglês e turco, não vai falar |
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turco,
quem sabe inglês e coreano, não vai falar coreano, quem falar espanhol
ou português, não corre o risco de ter de limpar o banheiro ou tirar
fotos para os arquivos da CIA, FBI e etc.? Ou fazer papel de Mexicano,
Jamaicano, Colombiano, Porto - Riquenho, "preguiçosos,
traficantes, estupradores, mal educados, e fanáticos por orgias
sexuais", no cinema americano. Língua dupla, essa coisa de
mutante, não é bom de mostrar em um lugar onde nem mesmo o professor
Xavier, parece estar seguro.
Mas
se o presidente norte-americano foi avisado pelo próprio professor
Xavier, por todos os mutantes do grupo dele, que os mutantes
"vieram para ficar", terá ele percebido que isso significa?
John Dewey falou mais ou menos a mesma coisa que Stan Lee, nos anos dez,
dizendo que todo norte-americano era mutante: era afro-americano,
ítalo-americano, hispano-americano etc, nada diferente de nós
Brasileiros.
Nós
pelo menos transformamos nosso Charles Xavier em presidente, mas
poderíamos fazer o mesmo com Mutantes de aparência pouco mais
"grotesca", poderíamos eleger o Anjo, o Fera ou Wolverine. Ou
em outras palavras, nós sentiríamos bem com um presidente negro,
mulher ou até quem sabe índio, ateu ou evangélico.
Hegel
e Marx sabiam que os contrastes mais agudos ocorreriam na América. Cabe
a Stan Lee recordar isso, parece. Cabe a nós ver se conseguimos manter
Wolverine calmo, ele tem uma marca com o passado, de quando o império
fez pior do que agora, no Iraque – sabemos disso. Ele é exatamente a
síntese do império: mutante e ao mesmo tempo tão demasiadamente
humano que parece ter um pé no lamaçal – o lamaçal dos crime de
guerra norte-americanos no Vietnã, onde como agora no Iraque, eram os
Negros, Latinos, e outros que morriam pelo mesmo poder que os mantinham
tão afastados "da almejada democracia", como os próprios
Vietnamitas.
Na
filosofia política aprendemos à analisar o cotidiano político de
nosso planeta azul, nos gibis de Stan Lee, encontramos uma realidade
política, demostrada e contada, muitas vezes com maior realidade aos
fatos, do que nos jornais, de um certo país que vem tentando se
encontrar copiando uma realidade já fracassada.
Mas
nossos "Bushs" locais, esperam realmente continuarem a manter
os mutantes brasileiros esperando pelo país do futuro, enquanto nosso
Magneto e seus mutantes rebeldes parecem ter controlado até as prisões
que fizemos para eles, nossos X-men permanecem em suas tendas na beira
das estradas, catando nossos restos para viver, preservando nossas
florestas que não damos valor, e assim continuamos a perseguí-los por
nós lembrar a existencial do outro, culpando-os pelos crimes de
Magneto, no fundo gostaríamos de ter um Planeta X, para manda-los
embora, afinal mutantes devem ser apenas personagens de revistas e
filmes, não nosso vizinho.
Referências:
DEWEY, John. Democracia e Educação. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.
FRIEDMAN, Michael Jan. Planeta X. São Paulo:
Meia Sete Editora, 1998.
RORTY, Richard. Para Realizar a América: o
pensamento de esquerda o século XX na América. Trad.
Paulo Ghiraldelli Jr., Alberto Tosi Rodrigues e Leoni
Henning. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1999.
________. Contra os chefes, contra as oligarquias.
Trad. João Abreu. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
Edgar Indalecio
Smaniotto, filósofo, astrônomo amador, mestrando em Ciências Sociais pela Unesp de Marília.
E-mail: edgarsmaniotto@yahoo.com.br
Blogger: http://edgarfilosofo.blog.uol.com.br/
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